Salvador Amaral ao Andar de Moto: “Dá-me mais gozo andar de moto depois de chover”
Entrevista a Salvador Amaral, piloto Wingmotor Honda
Salvador Amaral, o piloto da Wingmotor Honda, vai estar no fim de semana de 27 a 29 de maio na Baja de Loulé, segunda jornada do Campeonato Nacional de Todo-o-Terreno Road to Dakar. Com o irmão, Gonçalo Amaral, ausente devido a lesão, Salvador Amaral ambiciona disputar os lugares de topo na classificação final da Baja de Loulé: “é tentar entrar com o pé direito”.
Nesta conversa, ficámos também a saber qual a moto que usa no seu dia-a-dia, ambições futuras e como começou a ligação dos “irmãos Amaral ainda de chucha” ao universo moto ciclístico.
De recordar que a equipa Wingmotor Honda esteve no primeiro fim de semana deste mês em destaque na Baja Oeste de Portugal ao ver os seus dois pilotos subirem ao pódio da quarta jornada do Campeonato Nacional de Todo-o-Terreno. Gonçalo Amaral foi 2.º classificado na Classe Júnior enquanto Salvador Amaral conquistou o 3.º lugar na Classe TT1. Ambos terminaram a corrida no Top 10 absoluto. O irmão mais novo do clã Amaral, o jovem Manuel, alcançou a 3.ª posição na Classe TT2 da Mini Baja.
Daniela Azevedo (Andar de Moto) – Como foi a conquista na Baja Oeste de Portugal?
Salvador Amaral – Foi boa. Começa a comprovar-se o trabalho que temos vindo a fazer ao longo destes anos, os treinos, as corridas e a evolução que tem sido feita. Os resultados começam a aparecer e são um bom reflexo do que temos vindo a fazer.
DA (AdM) – Como tem sido o vosso percurso nas motos? Quem foi a figura que mais vos inspirou? Imagino que serem filhos do piloto Rodrigo Amaral tenha algo a ver com esta jornada até aos dias de hoje…
SA – Sem dúvida que o principal impulsionador disto tudo é o nosso pai que toda a sua vida correu em campeonatos nacionais e fez Dakares. Tínhamos os nossos momentos em família e dávamos as nossas voltas aos fins de semana até que decidimos experimentar e pronto! Ficámos apaixonados por motas desde pequeninos. Ele pôs-nos a andar de moto com 3 ou 4 anos; ainda de chucha! (risos). Portanto, já é quase uma tradição na nossa família fazermos estas brincadeiras.
DA (AdM) – Houve alguma prova que vos tenha marcado de forma especial por algum motivo?
SA – Sim, já tivemos algumas provas especiais. Pessoalmente tive uma prova que me marcou muito: o meu primeiro pódio à geral, que foi no ano passado, na Baja de Reguengos de Monsaraz. Lembro-me que comecei bem a corrida, depois no segundo dia começou a chover bastante e eu gosto de condições difíceis. Estava em 6.º lugar. No segundo dia consegui recuperar as posições quase todas, fiz um 2.º lugar à geral, foi o meu primeiro pódio, e esse é sempre um episódio que marca, como é óbvio. Espero que possam vir mais.
DA (AdM) – Já que estamos a falar de mau tempo, pergunto se o facto de não estarmos a ter tanta chuva como em anos anteriores, tem implicações nas provas. É melhor, ou, por outro lado não é nada bom que esteja tudo tão seco?
SA – Sim, tem implicações. É sempre bom que chova, principalmente para a agricultura, mas para andar de moto também. É bom andar um dia ou dois depois de chover, ou mesmo à chuva. Temos mais tração, há menos pó, por isso dá-me mais gozo andar de moto depois de chover.
DA (AdM) – A Wingmotor é quem vos patrocina. Como começou esta ligação à marca?
SA – Também tem motivos familiares! A Wingmotor é um projeto que nasceu em 2018, pela mão de dois sócios: o meu pai, Rodrigo Amaral, e o meu tio, Duarte Amaral, que também está ligado às motos. Trata-se de um concessionário oficial Honda que abrimos aqui no centro de Lisboa. Eu estou neste projeto com eles, trabalho cá desde que abrimos a loja e foi um processo natural. O Gonçalo já fazia mais força para correr nessa altura [2018] e surgiu a oportunidade de irmos os dois. A Wingmotor é o nosso principal patrocinador, sem eles era impossível fazermos isto, porque atrás das corridas e dos treinos há muitos custos. Depois temos outro patrocinador, que é a Motoni, que nos ajuda ao nível de materiais e equipamentos para as nossas motos… isso é tudo com eles e também lhe agradecemos bastante. No fundo é a junção dos esforços de todos que nos permite andar nas corridas, mas sem dúvida que o nosso principal apoiante é a Wingmotor.
DA (AdM) – Além dos materiais que usas em competição, que outros objetos ou outras motos te atraem mais?
SA – A Honda, sempre, sem dúvida! (risos) Eu ando de moto todos os dias para me deslocar de casa para o trabalho, sou um fã da Africa Twin que considero a moto mais polivalente, muito versátil, muito fácil de conduzir, quando necessário dá para fazer uma viagem grande e é a minha escolha para andar todos os dias.
DA (AdM) – Como lidas com as quedas e lesões? Nesses momentos mais difíceis o que custa mais: colar o osso ou ter de esperar várias semanas para poder voltar às competições?
SA – Infelizmente sabemos que isso faz parte deste desporto que tem alguns riscos e perigos. Nas corridas, para andarmos nos lugares mais à frente, é sempre preciso arriscar mais um bocado. O mais difícil é ter que parar, mas sabemos que é um processo para respeitar e esperar que o osso ou o que seja fique em condições. Depois, recuperar é outro processo até nos sentirmos aptos para voltar para cima da moto. O outro processo das lesões é conseguir vir trabalhar; isso é que tem que estar sempre em primeiro plano.
DA (AdM) – Nestes últimos dias tem sido notícia que Mário Patrão veio para esta competição com uma moto elétrica, uma KTM. É uma hipótese que também pode vir a aplicar-se a vocês?
SA – Eu acho que esse é um projeto engraçado, mas ainda está muito no início. Não sabemos bem se o nosso futuro passará por aí ou não. Que é uma opção sustentável e amiga do ambiente, sem dúvida que o é. Tivemos agora este primeiro contacto com o Mário [Patrão] que levou esta moto elétrica à Baja do Oeste, no entanto, é uma moto que precisa de muitas melhorias. A principal tem a ver com a autonomia, porque ele não fez com ela a prova completa; fez a dos miúdos, o Mini Troféu. A moto só tem autonomia para 40 Km’s. Mas é um passo em frente e vamos estar cá para ver como evolui.
DA (AdM) – Agora vem aí a Baja de Loulé nos dias 27, 28 e 29 deste mês. Quais são as vossas expectativas para esta próxima prova?
SA – O meu pai gostava muito da Baja de Loulé. Temos traçados semelhantes ali à porta de casa onde treinamos bastante. Era uma prova bastante rápida e nós gostamos de andar rápido, só que no ano passado tivemos uma prova no Algarve muito atípica, muito diferente do que costumava ser. O meu pai foi comigo, porque foi uma prova que ganhou algumas vezes e onde gostava muito de andar, e, coitado, foi a pensar encontrar algo parecido e acabou com um traçado mesmo difícil, muito exigente fisicamente. Eu só fiz no ano passado a Baja de Loulé, ou seja, a última memória que tenho de lá é que foi uma prova muito dura, muito física, com muito calor e muito trabalhosa, mas este ano, olhando para o traçado e vendo por onde passa, parece-me uma prova mais rápida e aberta, por isso, estou com boas expectativas. É tentar entrar com o pé direito.
DA (AdM) – Ponderam algum dia passar para alguma outra competição, para algum outro campeonato que não seja o Nacional de Todo o Terreno?
SA – Sim, como é lógico temos esse sonho. Se bem que sonhar mais à frente implica muito mais custos, mas sim, eu e o meu irmão Gonçalo temos isso em mente.